sábado, 9 de setembro de 2017

"Dalila aprendeu a ser assim, a agir, a ser e a estar de modo a que não esperassem nada de si. Como o aprendera e porquê, a isso ela não sabia responder. Mas por sorte, sei mais sobre Dalila do que ela própria e, por isso, posso explicar-vos. Dalila, órfã de mãe, frequentemente esquecida no balcão dos botequins, vivia com o pai, que só ocasionalmente conseguia ser pai, apesar de amar a filha. Mas que coisa estranha é essa, o amor... Se o amor fosse um homem teria, seguramente, mil caras diferentes e confudir-se-ia facilmente no meio de uma multidão onde deambulam outros homens. Onde vagueiam, errantes, o medo, o desespero, a frustração, a raiva e outros tantos parentes de gala. E ainda bem que assim é, caso contrário, deixaríamos de reconhecer em nós mesmos o que nos torna humanos. Um dia, Manuel, que amava Dalila, levantou-lhe a mão. As lágrimas que a menina chorou arderam-lhe na face, no sítio onde a mão injusta lhe caíra. E foram lágrimas dor e de vergonha, lágrimas de quem não conseguia compreender a dor por trás da força bruta que se insurgira contra si."

In "Dalila foi à Guerra"

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