quinta-feira, 15 de maio de 2014

A Chuva


A chuva não se importa de cair,
pesada,
ou sem se sentir,
pelos caminhos do mundo.
Vem beijar o chão que os homens pisam.
Vem desfazer-se e correr,
com pressa de chegar,
a rios de ninguém.
Deixa-se morrer, quase sempre,
na margem.
Entranha-se pela terra,
numa ancoragem
efémera.
Dela nada tira, a ela tudo dá.
Vem para lavar a cara ao mundo,
e alimenta-lhe as raízes,
onde o olho humano não chega.
Para desaparecer a seguir.
E quando nasce o sol, ninguém diz
que por ali se viu vir,
águas do céu,
lágrimas de Deus.
Tal homem que se tomba morto
em guerra,
só existe para acrescentar mais pedaços à terra:
A chuva.

Rita Oliveira

sexta-feira, 21 de março de 2014

Adeus, Poesia!
Vai-te no vento,
para onde te oiçam,
que de mim não tens mais do que pouco.
Vai-te para outro.
Não te prendas a mim.
Aqui não tens mais que dores,
que te gastam, envelhecem
e que de ti não fazem história.
Só me serves para o ego da memória.
Vai, Poesia! Vai-te embora!
Não vês que daqui
pouco mais levas que o meu proveito?
Nada mais que um egoísmo perverso,
só para ti mais vago
que evidente?
Mas escreve-me, quando chegares onde fores.
Não me deixes sem novas!
Que não há paixão mais potente,
que a que habita no amor ardente
da ausência.
E, quem sabe um dia,
por não te ter
eu volte a ti.

Rita Oliveira

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Diario de un extranjero





Aquí en mi nación
llevase el horizonte junto al pecho.
Respirase corazón,
desbravase los bosques
hasta que se vean 
las raíces de la tierra,
secando al sol.
En mi país, en mi país de lejos,
los hombres escupen,
en las cicatrices de los hombres.
Y aquí no hay tempestades, aquí no llueve.
Solo es permitido a las nubes
una suave llovizna,
que ni llega para lavarse la cara.
¡Todo aquí grita, pero no lo digas a nadie, nadie lo sabe!
El cielo grita, la tierra grita,
los árboles, las casas cerradas, las paredes,
los caminos, las piedras,
los hombres del pasado, los hombres del futuro…
las flores podridas en las escopetas… ¡Gritan!
y los que se mueren, se mueren
porque no pueden gritar más.
Y los que se van, se van con la voz ronca.
Pero no lo digas a nadie, nadie lo sabe,
nadie lo puede conocer…
Mi país de lejos, un país que se grita
sin saber.


Rita Oliveira