sábado, 21 de janeiro de 2012

Ao Café


Perguntaram-me o que desejava,
Pedi uma chávena de ilusão,
com creme e espuma,
e um pacote de sonho,
Que não me queriam servir.
Sem saber quem eu era, alguém passava:
- O que fui ontem,
Já hoje esqueci de madrugada.
Que serei amanhã? Quem quer saber? Quem?
Eu não,
Penso que fui pelo Mondego, Tejo
Ou nas correntes quentes do Verão.
Nos ventos do Norte,
No mar que rebenta sem rebentar,
Talvez o que fui,
já seja de alguém.
Na dúvida, trago presa a alma:
Como se pode ser não sendo?
Criança consciente de sua inconsciência,
Plenitude, em estado de dormência,
Ainda sobe ao muro a equilibrar-se na loucura.
Venha ela sentar-se comigo à mesa,
Que os demais já não me servem!
Não! Acabou-se-me a ilusão!
Empregado, traga-me café do mais doce,
Que a sombra na alma ainda perdura,
E ainda trago na boca,
O gosto da amargura!  



Rita Oliveira
20.01.2011