sábado, 27 de outubro de 2012

O dia em que nasci


No dia em que nasci, o vento não deixou de se arrastar,
esguio, por ruas de ninguém.
Nasci, porque não quis perder a primeira folha de Outono,
A soltar-se da árvore mãe.
A balouçar-se ao vento e aos sonhos.
Que toda a folha, de toda a árvore tem:
A vida num sopro…
E uma só caricia à alma.

Só está vivo, quem não sabe que vive.
E mais vale a loucura de não o saber!
Qual aragem gélida e sufocante,
Roçando nos cabelos selvagens,
Que insistem, teimosamente, em nos beijar os lábios e o olhar
Sacudimo-los violentamente.
E entre o desfazer o nó, com as pontas dos dedos,
e a bonança, para onde corre todo o tempo,
Ninguém diz que por ali passou
a vida.

No dia em que eu nasci…
Ah, e parece que foi ontem que nasci!
A minha alma não cabia em mim.
Do excesso, fiz poesia.
E neste sopro, vão os versos,
vai a alma que em mim não cabia…
E uma dor de quem não sabe viver.
A última folha caída.

Rita Oliveira
27.10.2012

3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Geralmente, costumo menosprezar a escrita "sensível", digamos assim. No entanto, encontrei, por acaso, este blog e li o primeiro poema. Abri tal excepção porque os primeiros versos me cativaram, tal como disse, não é algo que acontece frequentemente com este tipo de poesia. Devo dar-lhe os parabéns por tal escrita, magnifica diga-se já. Noto a influência da escrita de Pessoa tal como dos seus próprios heterónimos, estou errado?

8 de fevereiro de 2013 às 01:02  
Blogger Rita Fé disse...

Agradeço imenso e fico sinceramente contente por ter apreciado a minha escrita, especialmente por saber, dada a sua franqueza, que não costuma simpatizar com este "estilo". E sim, não podia estar mais correcto quanto às influências! Nutro bastante simpatia por Pessoa e heterónimos (por Campos, em particular), no entanto tenho-me esforçado e espero vir a alargar horizontes.

8 de março de 2013 às 23:23  
Anonymous Anónimo disse...

Começo por agradecer a resposta ao comentário, obrigado pela atenção. Campos também é o meu favorito dentro da obra pessoana. Acho óptimo ainda haver jovens com este tipo de interesse e talento, visto que a escrita já não é um hobbie comum neste país. Fico contente por saber que tem em mente a expansão de horizontes, uma mente aberta é uma mente em evolução e evolução é um passo crucial para o sucesso. Desejo-lhe boa sorte porque o resto já traz consigo :)

16 de março de 2013 às 19:11  

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