sábado, 20 de agosto de 2011

Ao Espelho




A pobre criança, que canta e brinca na rua,

julga-se de mãos dadas com o Mundo,
mas desconhece, coitada,
que é o Mundo que a traz pela mão.
E é impossível prender-te a alma,
que trazes livre entre choros e gargalhadas,
alheia às maldades e às vergonhas.
Ah, criança, que essa alma solta nem a ti te pertence,
E poder ser tu, saindo de mim...
Partilhar dessa santa vida ingénua que outrora foi minha também,
Com o corpo cheio de tudo,
e de nada.
Talvez sim, talvez não,
Que todo o sonho ingénuo tem doloroso despertar.
E na mão da tua essência, criança, trazes o espelho onde se esconde toda a realidade.
Acautela-te e dele não te separes.
Esse sonho de vida foi, outrora, meu...
perdi-me na brisa dos sorrisos e nos intervalos da dor!
Foge, ó criança, foge para onde vai o tempo,
e a idade.
Que quando me debrucei sobre o espelho que a minha alma arrastava,
Não me reconheci...





Rita Oliveira
15 de Agosto de 2011