segunda-feira, 11 de outubro de 2010



Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos



Talvez, só talvez…
Talvez, quando o tiquetaque dos relógios estiver em sintonia e fizer coro com os sons do mundo…
Talvez, quando o despertar do ser humano for unânime…

Talvez, quando o levantar das águas tocar nas almas das gentes perdidas…
Talvez, quando o pensamento dos Homens deixar de cheirar a mofo…
Talvez, quando não trouxermos as mãos criadoras sujas de lodo…
Talvez, quando as amarras do Sentir deixarem de sufocar o meu coração…
Sim, talvez, só talvez, um dia eu regresse…
Até lá, resta-me apenas viver igual a todos, igual a nenhuns.
Viverei, portanto, como intrusa na massa informe, escura e fria.
Adormecida no Silêncio e na utopia inocente de um mundo de cor, de luz e de Razão…
Enrolada na teia da inveja de todos aqueles que amam a alma e não o corpo que a faz prisioneira…
Não existo…
Ainda não nasci…
Mas sim, talvez um dia…

Rita Oliveira
11.10.2010