sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sombra de Luz



Rompe o sol pela janela do quarto escuro.
Desprendendo a noite que há muito queria ir.



Uma sombra de luz vem visitar-me, meiga.
Deitada na carpete, agarrando a mão de alguém que não mais iria sentir.
Estala o sino da igreja.
Poisou a mão em cima do teu ombro e tu nem viste.
Mandou o vento soprar-te na face para te libertar a alma.
Deu-te a mão para lhe mostrares o caminho.
Sentou-se no teu colo para a envolveres,
Escondeu a cara no teu pescoço,
Afagou as lágrimas angélicas, puras nos teus cabelos.
Mas teus braços, muralhas impenetráveis, não me envolveram,
Teu ombro forte foi fraquejando,
Teu colo deixou-me cair.
Na ingenuidade continuo a sorrir-te baixinho.
Dou-te a mão, tuas pernas não caminham ao meu lado.
Não cruzas caminho meu na tua Rosa.
Tua mão, nem quente, nem fria,
Tua mão, nem preta, nem branca,

Ar apenas.
Olhos a quem a minha alma insiste em dar voz de esperança.
Fundes-te com a sombra da luz.
Tua aragem não mais senti, nem sentirei,
Vento humano que por mim passou e que disso não passas.
Teu sopro perde-se no brilho dos meus olhos, de quem por ti espera,
Sou criança de luz, que não sabes encontrar.
Nem Norte nem Sul correrás por mim,
Filha do infinito,
Vento que no meu corpo não toca.
Assisto à ingratidão com que penetras no quarto escuro,
Para mim olhas pelo cantinho do olho,
Retribuiu-te indiferente, mas não verdadeira no olhar,
Prego-me à tua mão, ao aperto no peito.
Eu, criança de luz, olho para ti quando te somes.
Eu, criança de luz, corro à janela,
Para sentir o teu abraçado dorido, que nunca sinto
Num misto de dor e cansaço, deito-me no chão,
À espera de ver a sombra de luz,
Para te ver ir,
Mais uma vez.
Desejo baixinho:
“Vento quente, que a ti não pertenço,
Olha para trás,
Vem abraçar-me pela última vez!”
Vejo-te partir,

Sem palavra, sem gesto...

Não Existes

Eu...

Sorrir-te-ei sempre!





*
«Se leste, diz qualquer coisa, se tives-te tempo de ler, também tives-te tempo de dizer, se não o disseres hoje, amanhã, também não o dirás, se não disseres... não importa...

Para ti com muito carinho e amor...»

Rita Oliveira
30-01-2009