terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Grito



Hoje queria falar...
Hoje, decidi que não me vou esconder atrás de metáforas, vou despir-me das palavras.
Hoje, não me vou preocupar se transponho demasiado de mim nas linhas que se seguem…
Hoje decidi ser honesta comigo própria e vou esquecer o vento Poético que quis ter sempre comigo.
Hoje não quero mais deixar que aquele muro de Silêncio continue a sufocar-me e me afaste do Mundo que eu não consigo alcançar.
Hoje, quero deixar de morder os lábios e usar todas as minhas forças para não deixar cair as lágrimas.
Hoje não vou lutar contra mim.
Hoje, vou dar voz ao meu corpo e não vou ser engolida por aquilo que já passou mas que insiste em estar presente.
Hoje, recuso-me a tapar os ouvidos para abafar os gritos e as vozes.
Hoje vou encara-las e olha-las nos olhos…
Hoje vou reagir!
Hoje, quero que deixe de ser monótono chorar até os olhos incharem e a pele me arder.
Hoje, deixei de me culpar pelas minhas feridas e pelos danos que as atitudes dos outros provocaram e mim.
Ontem, não sabia, mas hoje sei que tudo vem e tudo vai.
Hoje sei que há pessoas que entram e depois têm de sair.
Hoje também sei que tudo acontece por alguma razão e que nada é em vão.
E por isso…
… hoje, perdoei a vida por me ter magoado tanto e tantas vezes…
… hoje, descobri que a minha história pode ter um rumo mais feliz… e quero dar-lhe esse rumo.
… hoje olhei para trás e vi toda a minha vergonha, tudo aquilo que me fez sentir desrespeitada durante tanto tempo e que me fez construir aquela muralha de Silêncio, que me prendeu no meu Mundo e que foi crescendo comigo e com o tempo, fazendo com que a minha cabeça se perdesse entre as memórias…
…entre os segredos…
…entre a escuridão…
…entre os “porquês”.
Hoje, sei que podia ter falado, porém, não falei e arrependo-me de não ter lutado contra a vergonha e contra o medo.
Hoje sei que o que sei é pouco…
… mas é o suficiente para ter percebido que a minha história pode ter um “fim alternativo”, que tenho o direito de ser eu a escreve-la…
… e não vou deixar que mais ninguém me impeça de o fazer.

Hoje… trago a alma Livre!

Era isto que lhe queria ter dito...

Rita Oliveira
21/12/2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Despertar


Não é preciso dizer, ou perguntar. Sei que são poucos aqueles que nunca acordaram antes de o sol nascer, sei que são poucos aqueles que foram acordados por um desassossego, ou simplesmente porque assim calhou que fosse.

Ó sim, quantos não foram aqueles que acordaram antes de o amanhecer, que abriram os olhos depois de imagens tão cheias de felicidade tão perfeita, tão tocável e atingível que tornam ingénuos todos aqueles que não sabem que tal plenitude só se alcança de olhos fechados e que se vai embora com a noite?

Outros sabem que vale mais ser-se ingénuo, do que ter o peso de um sono temível, onde os fantasmas são corpóreos, de imagens feitas de sombras. De sombras mais escuras que a própria realidade.

E quantos não são os que acordam antes de o amanhecer, despertando de um sono tão transparente, tão puro e simples, tão cheio de nada, tão sem sensações, que nos faz sentir que o sono foi um simples intervalo e o acordar uma retoma?… Bem ditas sejam essas noites!


Ainda de olhos fechados, sentimos os sentidos a acordar mexemos o corpo, devagar, como se nunca o tivessemos feito antes, semicerramos os olhos inicialmente, como se as pálpebras nos pesassem mais do que a vida e deixamo-nos envolver pela escuridão do quarto. Não pensamos, mas sabemos que tudo permanece igual, os livros continuam no sítio onde os pusemos, o tiquetaque do relógio tem o mesmo ritmo, em cima da mesa, está a carta que receámos ler, ou que já lemos vezes demais...

O sol vai entrando pela janela, trespassa as cortinas sem reservas, sem pudor, sem piedade e vem levantar a escuridão, como quem desprende um véu, em cada canto do quarto, levando também toda a esperança de que cada objecto tivesse uma anatomia diferente, que as paredes do quarto tivessem outra cor.

Lembramo-nos então que retomámos, hoje, a vida, onde ontem tínhamos acabado. Independentemente do sonho.

Sei que são poucos os que nunca despertaram antes de o amanhecer e desejaram ter acordado noutra Pele!



Rita Oliveira

10/11/09

sábado, 26 de setembro de 2009

Retrato (o apelo)



Nunca o espelho lhe mostrara tal imagem





Ela sai todos os dias de casa, com o brilho de quem procura a plenitude. Uma pessoa normal, mas nem por isso banal, caminha rápido, fizeram-lhe os passos firmes e apertados, embora quem contempla-se a obra-prima com atenção percebe-se que estava longe de ser segura de si. Na cara, tinha ainda os olhos cansados e esse era o maior erro do artista, ainda tentaram mudar-lhes a cor uma vez, mas viram a tentativa inútil quando perceberam que não havia tinta, verniz e pincel que os fizesse brilhar… tinha um sorriso nos lábios, sorriso esse que lhe fora desenhado por alguém que achara que sorrir era uma necessidade urgente, a Salvação e tendo uma visão meio romântica da vida, Ela acreditava profundamente que quem lhe desenhara o sorriso o fez com amor.
A sua pele foi pintada de uma cor meio clara, meio escura, e quem a pintou sabia que o ideal era o transparente.
As mãos, que outrora foram calejadas, secas, ásperas, velhas e inchadas são agora pequeninas, são novas, são brilhantes, são macias e, melhor de tudo… são criadoras, embora quem as desenhou, saiba que o ideal, é e será sempre o modelo original, sempre puro, sempre verdadeiro.

Um “entra e sai de artistas” literalmente!

Apenas a alma permanecera tal e qual como nasceu, Ela tinha-a escondida debaixo da cabeceira, onde todas as noites poisava a cabeça, assim, poderia sentir o seu perfume antes de adormecer e de certo que ninguém se atreveria a roubar-lhe a mais pura virtude do Ser e adultera-la a seu belo prazer.
Isto sabia-o ela porque lho diziam, pois nunca tal coisa o espelho lhe mostrou, a não ser a alma a despir-se do passado lentamente, peça por peça, ao seu ritmo, talvez em câmara lenta e de vez em quando interrompida por um atropelo de ideias escondido atrás de tanta cor, de tanta luz artificial…
Por um pesadelo…
Por uma insónia…
Pelo nó na garganta…
Por quem lhe desenhou o sorriso…
… e Ela acredita que quem lhe desenhou o sorriso o fez com o coração…
…e Ela acredita que foi o coração que fez esquecer a pessoa que lhe desenhou o sorriso que o Sol não nasce em vez da Lua, que a seguir ao Inverno vem a Primavera, que o abismo se pode atravessar de mãos dadas e que de mãos unidas nasce um sorriso espontâneo.
Afinal que cor deram ao perdão?

Foi assim que lhe fizeram o retrato: o coração bate-lhe fora do peito, as lágrimas correm-lhe para dentro e a sua gargalhada mais sonora nunca lhe chegou aos ouvidos…
Mas dizem-na bela...
Mas dizem-na forte...

Sei isto porque foi o que me disseram, pois nunca tal coisa me mostrou o espelho a não ser o meu reflexo original, o esboço do destino, a obra-prima do Tempo… arrepiasse-me a pele quando essa imagem me pergunta:
-Quem és tu?
E eu respondo-lhe diariamente:
-Eu sou tu… enquanto não me levarem a alma!
Saio todos os dias de casa, com o brilho de quem procura a plenitude. Uma pessoa normal, caminho rápido, pois fizeram-me os passos firmes e apertados. Na cara, tenho ainda os olhos cansados de repetir quase obsessivamente:
«Enfeitem-me por fora, mudem-me as cores, troquem-me os sentidos, mas nunca impeçam a minha Alma de ser Alma!»


Absolutamente inútil!




Rita Oliveira
26/09/09

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Teresa


Coimbra, 21 de Setembro de 1998



Querida Teresa:

O Inverno daqui, já se foi há muito, as folhas crescem nas árvores, os dias são grandes, tão pequenos, enormes e, passam quase à mesma velocidade com que os pássaros saiem dos ninhos, e partem, vindos de outro lugar que não este, de longe, bem longe, de onde os seus olhos gravaram imagens e as suas canções trazem historias, que reproduzem num canto arrebatador e incompreensível por vezes…
Tem tudo estado como tu gostas, os dias são limpos, o mar, espelho do céu, vai e vem calmo, vai e vem de mansinho, como se não quisesse perturbar os pensamentos de quem se senta perdido na areia, ou de quem se deixa levar pela pequenez do seu Ser ao olhar a sua imensidão, vai e vem, quase silencioso, quase inaudível… Não vou até lá desde que te foste, há muito que a areia que piso não é a mesma areia fina e branca que eu tentava agarrar e escorregava entre os meus dedos.
De manhã, quando acordo, a Natureza dá logo de si e os pássaros, aqueles que vieram de outro lugar longe deste, mas certo é que poisaram na minha janela, cantam vivamente. Já não suporto aquele cantar, aquele cantar que penetra sem aviso nas quatro paredes escuras, nos meus sonhos, aquela alegria violenta que entrava sem aviso, sem palavras, que me irrequieta, que me irrita, que me faz inveja …
Quero que saibas que ainda tenho, na minha mesa-de-cabeceira, aquela fotografia nossa, que julgo ter sido a única que sobreviveu às mudanças e ao Tempo. Eu, estou ali, com aquele olhar frágil e ingénuo, típico de quem ainda não sabe nada da vida, e que não sabe que o está prestes a descobrir. Um dos teus braços estava á volta da minha barriga, a minha pele meio pálida e os meus cabelos negros estavam coladinhos à tua pele e a minha mãozinha parava na tua cara, ambas sorriamos para a objectiva, e é incrível poder agarrar naquela recordação e ver, que foi mesmo verdade, que o teu olhar nem sempre foi vazio.
Hoje, imagino-te por aí, a consumires-te à beira de um poço, hoje, imagino-te a caminhares na rua, como quem vive mas não existe, a andar como quem paira, e a fazer do ar que respiras uma brincadeira, imagino-te a dar aquelas gargalhadas que atravessavam as margens do rio, imagino-te ao portão da escola… vejo-te a ser engolida pelos males da carne, a ser levada pela corrente com olhos de maré vaza. É certo que nem tudo o que vagueia não tem rumo, é certo que no meio da podridão do corpo e da fraqueza da alma, está, e estará sempre a mais pura das essências.
Nunca te larguei a mão, e sei que nunca me tiraste do teu colo. Às vezes penso que voltas, que vens de longe, de bem longe, de um sitio que não este, de onde os seus olhos gravaram imagens e as suas canções trazem historias, que reproduzem num canto arrebatador e incompreensível por vezes, que estarás no teu ninho, no teu lugar, como a praia de areia branca e fina, que não é a mesma desde que partiste, vais e vens calma, vais e vens de mansinho, como se não quisesses perturbar os meus pensamentos quando me sento perdida na areia, ou quando me deixo levar pela pequenez do meu Ser ao abeirar-me da tua imensidão, vais e vens, quase silenciosa, quase inaudível, ainda assim, não deixo de largar uma lágrima quando te quero agarrar e escorregas entre os meus dedos.
E deixo-te com a certeza de que, hoje, foi a criança que fui que te escreveu!



Rita Oliveira

sábado, 16 de maio de 2009

Incerteza


Assisto atentamente à sua chegada e sinto vagarosamente o sangue a correr-me nas veias.
Olha para mim, como quem não me vê e esconde-se algures entre a alma e o coração.
Passa de relance…
Depois, acalma… vem falar-me baixinho ao ouvido, a medo, toca-me como se não fosse propositado e aí, sim, é aí que flechas de fogo me queimam a pele todas as palavras são trocadas por silencio e sorrisos momentâneos, por olhares meigos e ternos, mas incertos, mas distantes… e de repente sou minúscula, alguém me aperta contra o peito por causa da ferida na alma que tanto dói.
Olho pelo cantinho do olho e lá está outra vez, pronto para olhar através de mim, como se eu não soubesse o que traz escondido no peito e no olhar flamejante, como se eu não soubesse que está lá para assistir atentamente à minha chegada, que sente vagarosamente o sangue a correr-lhe nas veias. Pensa que o tempo criou o vazio, a distância e olha para trás para que o seu olhar se cruze com o meu em cada passo em frente que dá, mas insiste em fingir que não provoca em mim a insatisfação típica de quem não sabe o que quer. Finge que não estou nem nunca estive…
Depois vem a fraqueza…
As gargalhadas espalham-se pela escuridão dos dias, despimo-nos de nós, e num puro momento de delírio, abro os braços a quem me conhece, a quem conhece cada pedacinho de mim, a quem conhece cada contraste da minha pele, dos meus pensamentos, a quem sabe sorrir e chorar, a quem esporadicamente se deixa levar por sentimentos espontâneos, a quem torna o momento seguinte imprevisível… mas no fim…
… assistimos ao momento da chegada, como se nenhum de nós soubesse o que trazemos escondido no peito, escondido do Mundo, olhamo-nos como se não nos víssemos e pensamos que o tempo criou o vazio, a distância, em cada passo que damos, olhamos para trás, cruzamos o olhar e fingimos que não existe horizonte que nos corte a respiração e nos apague a incerteza de quem não sabe o que quer… que abale o medo do desconhecido ou…
...que lembre que o cominho faz-se caminhando…


Rita Oliveira
16/05/2009
Obrigada Carla x)

sábado, 25 de abril de 2009

Sopro de Loucura (a criança que fui)


Há muito que o azul do céu fugira, era agora cinzento, triste, frio, violento e chuvoso, a relva estava húmida, eu conseguia senti-la bem debaixo dos meus pés descalços, a terra molhada enrolava-se à volta dos meus dedos como se quisesse que eu a levasse dali, o vento tocava-me nos cabelos que, uma vez por outra me vinham beijar os lábios.
Estava despida, despida e nada mais levava comigo a não ser eu, e caminho…
Caminho e faço das nuvens e estradas de sonhos meus, na travessia entre a realidade e a ilusão que impera no meu ser e me encosta á loucura, ou a um suspiro profundo…
Caminho como Ser Imperfeito, feito de Imperfeições, criado na Imperfeição e sim, tão Perfeito de tão Imperfeito que é, de tanta Imperfeição que tem, e Imperfeita enrolo-me sobre mim escondida do mundo, de olhos abertos, encostada à sombra da alma, mas caminho…
Caminho debaixo de um céu cinzento, caminho em cima da relva húmida, caminho na terra molhada que se agarra aos meus pés, caminho despida… e o vento toca-me em cada pedaço da minha pele…
Caminho na chuva, na tempestade… mas caminho…

O rio corre violento…
Gritam as arvores, soltam-se as folhas...
E num pranto dá-se a força da natureza e a confusão do Homem...
De um Homem…
que não é Homem…
Mas caminhei e continuei a caminhar
E algo me fez parar e olhar,
Atrás um buraco vazio…
Em frente… a multidão.
Pessoas de costas voltadas…
Pessoas que falavam
Pessoas sem voz…
Uma criança saiu do meio da multidão, que não se mexeu á sua passagem…
Uma criança saiu do meio da multidão eufórica e feliz...
Uma criança saiu do meio da multidão com uma margarida presa no seu cabelo escuro…
Deu-me a mão, tocou-me na cara...
Nos cabelos…
Olhou-me nos olhos…
E havia qualquer coisa de familiar…
Olhou-me nos olhos…
A felicidade súbdita, a espontaneidade…
Olhou-me nos olhos…
A juventude infinita, a saudade…
Os lábios grossos e um beijo solto…
Naquele dia, debaixo do meu céu cinzento, em cima da relva húmida, da terra molhada, caminhei despida de uma vida…
Como se um calor interior me cobrisse a pele nua, corri para o meio da multidão…
O sol que rasgou o céu cobriu cada pedacinho do meu corpo…
Olha cada uma daquelas pessoas ali… no centro.
Olhei cada uma daquelas mulheres, cada um daqueles homens, sem cara, sem pele, sem olhos, sem boca, sem lábios…
Oh, como tenho pena de vocês que caminham despidos, debaixo de um céu cinzento, que sentem a relva húmida e a terra molhada a enrolar-se, a arrefecer-vos o sangue…
Que pena tenho de vocês, que para dentro nunca olham, nunca olharam nem olharão…
Que pena tenho de vocês que tanto envelheceram…
Que pena tenho de vocês que ao espelho nunca se viram…
O rio e a sua forma cristalina fazia barulhinhos enquanto corria e batia suavemente nas margens…
Eram respirações, batimentos, eram lágrimas e sofrimento, alegria e calor que me vestiu, apertou o coração…
Que a minha voz seja sempre a mesma voz daquele olhar… que eu consiga entender o mundo, através daqueles olhos…
Olhei para trás e nada vi…
Girei sob os calcanhares e…
Segui em frente segui por estradas de nuvem em sonhos que são meus, em momentos de loucura ou num simples suspiro…
Segui em frente e levei comigo a multidão, cada sopro, cada aragem de vento, cada gota de chuva, cada olhar de criança, cada milímetro de saudade…
Segui em frente e levei-me comigo, segui em frente e levei-os a eles...
Segui em frente e levei… uma margarida presa no meu cabelo escuro.
E nos meus lábios grossos…
...um beijo solto…

Rita Oliveira
23.04.2009

domingo, 5 de abril de 2009

Criança para Sempre!


Qualquer criança tem, mais tarde ou mais cedo, alguém especial por perto.
E esse alguém não é igual aos demais.
Mistura-se a dor e alegria, um sorriso e uma lágrima, sensação q envolta num beijo alcança…
...a mais leve das levezas do ser, plenitude invejada por todos, que se vê, que não se toca…
...almas despidas do nada, nuas, ingénuas ao mesmo nível, força implacável derrubadora de montanhas, sorrisos cúmplices, luzes no começo do túnel, pureza inatingível, teu abraço protector, meu alivio que vagueia num suspiro…

Dor partilhada entre dois corpos, alegria procurada por duas almas, e um abraço apenas…
Apenas um abraço…
Anda, vem comigo, anda ser criança outra vez…
E o teu “Eu” será a tua alma…
Caçadora de Sonhos…
Hoje não precisas de arranjar justificações,
Hoje descobres,
Hoje as coisas são simples,
Hoje sentes.
Hoje o sol brilha, porque brilha,
Hoje o céu é azul, porque é azul,
Hoje o teu coração bate, porque bate,
Hoje, não precisas de saber mais nada para ser feliz,
Hoje vives feliz em ilusões.
Hoje, crescer assusta.
Hoje, quero ser pequenina outra vez, e outra, e outra, e outra…
Hoje dói acordar…

Hoje as coisas são racionais e não espontâneas, puras…

Hoje pensasse um minuto e depois diz-se,
Hoje, esse minuto faz-me perder a coragem de ser sincera...
Hoje dói-me crescer…
Hoje descobriste que uma parte de ti anseia por ser criança...
...porque...
As minhas lágrimas morrem nos meus lábios e são sentidas na tua pele.
O teu cheiro fica agarrado à minha roupa com um abraço apenas…
… apenas um abraço.

Hoje estás lá,
…porque estás…
Hoje não precisas de explicações para estares lá…
Hoje simplesmente tinhas de estar…
Hoje não há dores de crescimento, hoje o tempo parou.
Hoje tu paras-te o tempo com o teu abraço apenas…
Apenas com o teu abraço…
E paraste o tempo porque sentis-te que tinhas de o parar…


É certo que quem fica perto de uma criança, nunca se esqueceu de que um dia…
…foi criança.

Rita Oliveira
5-04-2009

sábado, 14 de março de 2009

Momentos de Poesia


Eu explico-te:

Eu sou poeta quando digo que te quero!

Se digo que te quero… acredita!

Eu sou poeta quando te digo que sonho!

Também sonhas? Então também és Poeta.

(mas de olhos fechados não vale sim?)

Se em vez de te deixares vencer, consegues embelezar o monótono…és Poeta!

Se no Inverno sentires o cheiro do rebento das flores da Primavera…

Não, não estás senil, és mesmo Poeta!

Se acreditas em mim quando te digo que navego em mar sem água, a bordo de uma caravela sem velas, levada pelo vento do norte, do sul, do este, do oeste, do teu suspiro… és Poeta!


Achas-te criador…?

És Poeta.

Sofres? Então... Sofrer é Poesia!

Dás vida ao inanimado? És POETA!

Procuras?
Encontras?
Sorris?
Choras?
Magoas-te?
Dói?
Vais?
Voltas?
Achas-te insatisfeito?
Mas satisfazes?
Ainda não descobriste porque?

Não te preocupes, acontece… porque és Poeta.

Olha, queres que te ensine como se faz?

É simples, começas por tirar um bocadinho de monotonia ao tempo, olhas para o céu, vês para dentro de ti, se vires que ele é azul (sim, porque há coisas que nunca viste!), podes recordar-te do Mar, se te recordares de Mar, pensa em como ele é grande, se pensares na sua imensidão, vais esquecer o sufoco e lembrar-te da liberdade, se te lembrares da liberdade vais sentir-te feliz, se te sentires feliz vais querer partilhar com As Pessoas Especiais, se as tiveres perto de ti, vais alcançar a plenitude, por poucos momentos, é certo, porque o que é demais cansa, mas ficarás grato ainda assim. Vês? Está tudo dentro de ti. Mas lembra-te, só é possível se fores Poeta! É um ciclo inacabado... uma roda de necessidades.


Se não deres o monótono como impenetrável, inquebrável, igual ao “sempre”… és Poeta!


Se quiseres encontrar o impossível… procura na Poesia!


Achas que tens o poder de seres tu?

Achas que tens a liberdade que se impera ao teu ser instintivamente, como se não lhe pudesses virar as costas, como um grito que se propaga a uma velocidade igual à da tua mente?

És Poeta!

Tu és Tu?
Ontem foste tu?
Hoje és tu?
Amanhã queres continuar ser tu?

Então és Poeta!

És Poeta?
Então a tua voz é tão forte como o barulho de uma pena a cair no chão.

És Poeta se tentares que o mundo faça sentido nas tuas palavras mais profundas!


És Poeta se souberes que és inteligentemente ignorante.

Sabes disso?

Então és Poeta!


Percebes-te?

Isto, sim, é Poesia dos Poetas!
Consegues ouvir?

Não?

Experimenta!

És Poeta…
… és Homem.
.
.
Rita Oliveira
14-03-2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Amar-te


Amo-te como em dias de sol quente e não como em dias de nevoeiro.

Não te amo como se tivesse dentro de quatro paredes a prenderem-me a alma, mas sim como se fosse livre e dançasse como se ninguém me visse.

Amo-te com a mesma força do último crepúsculo de luz que insiste em aparecer no fim do dia e não como a escuridão que me penetra na mente e me sufoca as entranhas em dias de aperto.
Amo-te não obstante do passado e criadora do futuro.
Por ti apago-o, apago-o e inicio-me de novo numa espécie de folha em branco.

Mexe-lhe tu, escreve tu, deixo-me em ti…

Não seremos um só, seremos dois juntos e juntos seremos mais.

Que os teus dedos se entrelacem para sempre nos meus, que as rugas do tempo as apartem.

Amo-te com a mesma força com que o mar bate nas rochas gritando pela plenitude e ao mesmo tempo com a suavidade com que chega a areia.

Amo-te com a força da conquista que se impôs traiçoeira à minha alma e não pelo simples facto de querer.

Amo-te sem intenção…

Amo-te… olha, porque te amo.

Amo-te tão suavemente como quando os nossos lábios se encontraram e aprenderam a dizer “amo-te”.
Amar-te-ei no dia em que acordar e não me encontrar em mim, eu não serei eu, tu não serás tu. Dir-te-ei o que ainda não te disse até hoje: “Amo-te”.

E amanhã quando acordarmos, vais tocar-me no ombro, vais esperar que acorde e que te fale baixinho ao ouvido…

Amei-te ontem, amo-te hoje, e amar-te-ei sempre, como a flor que desabrocha à noite molhada pela chuva…
Pode ser?


Rita Oliveira
17-02-09

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sombra de Luz



Rompe o sol pela janela do quarto escuro.
Desprendendo a noite que há muito queria ir.



Uma sombra de luz vem visitar-me, meiga.
Deitada na carpete, agarrando a mão de alguém que não mais iria sentir.
Estala o sino da igreja.
Poisou a mão em cima do teu ombro e tu nem viste.
Mandou o vento soprar-te na face para te libertar a alma.
Deu-te a mão para lhe mostrares o caminho.
Sentou-se no teu colo para a envolveres,
Escondeu a cara no teu pescoço,
Afagou as lágrimas angélicas, puras nos teus cabelos.
Mas teus braços, muralhas impenetráveis, não me envolveram,
Teu ombro forte foi fraquejando,
Teu colo deixou-me cair.
Na ingenuidade continuo a sorrir-te baixinho.
Dou-te a mão, tuas pernas não caminham ao meu lado.
Não cruzas caminho meu na tua Rosa.
Tua mão, nem quente, nem fria,
Tua mão, nem preta, nem branca,

Ar apenas.
Olhos a quem a minha alma insiste em dar voz de esperança.
Fundes-te com a sombra da luz.
Tua aragem não mais senti, nem sentirei,
Vento humano que por mim passou e que disso não passas.
Teu sopro perde-se no brilho dos meus olhos, de quem por ti espera,
Sou criança de luz, que não sabes encontrar.
Nem Norte nem Sul correrás por mim,
Filha do infinito,
Vento que no meu corpo não toca.
Assisto à ingratidão com que penetras no quarto escuro,
Para mim olhas pelo cantinho do olho,
Retribuiu-te indiferente, mas não verdadeira no olhar,
Prego-me à tua mão, ao aperto no peito.
Eu, criança de luz, olho para ti quando te somes.
Eu, criança de luz, corro à janela,
Para sentir o teu abraçado dorido, que nunca sinto
Num misto de dor e cansaço, deito-me no chão,
À espera de ver a sombra de luz,
Para te ver ir,
Mais uma vez.
Desejo baixinho:
“Vento quente, que a ti não pertenço,
Olha para trás,
Vem abraçar-me pela última vez!”
Vejo-te partir,

Sem palavra, sem gesto...

Não Existes

Eu...

Sorrir-te-ei sempre!





*
«Se leste, diz qualquer coisa, se tives-te tempo de ler, também tives-te tempo de dizer, se não o disseres hoje, amanhã, também não o dirás, se não disseres... não importa...

Para ti com muito carinho e amor...»

Rita Oliveira
30-01-2009