domingo, 22 de junho de 2008

Ninho




O que está atrás da janela?
O despertar do dia.

O acordar...
Primeiro vem o sol e acorda a luz.
Desperta a vida, acorda a voz.
Observei, vezes sem conta, as pequenas frestas deixadas pela persiana, que a luz, curiosa, usou para penetrar no interior da escuridão.
Esperando o meu despertar.
Levanto-me do Ninho...
Com o Coro posto na minha janela, partem todos ao mesmo tempo, para as suas casas de palhinhas, sem deixarem de se fazer ouvir. Cada um para o seu lar... cada qual com o seu Ninho.
Há sempre aquele passarinho que fica no chão, esquecido.
Caminho na rua, perdida, concentrando-me nos sons de momentos a momentos. Resumindo-me a uma semente deixada por alguém, e deixo que o tempo me desafie a seu belo prazer.
Sento-me no banco do jardim, e fico à minha espera.
Hoje, perdi-me! Devo andar por aí com roupa cor de ar, devo ter um olhar vazio, a minha voz deve ser inaudível.
Olhei para todas as esquinas, olhei para todas as ruas e nunca me vi!
O que sou?
Não sou peixe! Não sou gato! Serei pássaro?
Voltei a olhar... não me vejo.
Hoje, perdi-me! Hoje não soube voltar para o meu Ninho.
Decidi permanecer sentada, desta vez à espera de alguém que me trouxesse até mim. Levando-me de volta para o Ninho, cuidando do passarinho pequenino que levantou voo, sem saber voar.
Passaram horas, passaram dias... Até que vi uma pessoa sentada no passeio, do outro lado da rua, a olhar para mim, como se estivesse ali desde sempre. Seria eu?
Levantei-me e corri ao seu encontro. Olhei nos olhos de Ninguém que rapidamente se tornou Alguém.
Também se levantou, ficando num nível ligeiramente superior ao meu. Com um olhar quase tão vazio como o meu!
Pela primeira vez deixei-me vencer pelas lágrimas que insistiam constantemente em salgar a minha pele.
Encostei-me ao peito do desconhecido.
Pedi-lhe para tomar conta de mim.
Abraçámos o Meu Mundo.
Abraçou-me com força, fiquei enroscada em braços muito mais fortes que os meus, para segurar no meu corpinho, quase tão frágil como a minha alma desaparecida. Fiquei ali, aninhada, a ouvir o bater daquele coração. Finalmente regressei ao Ninho.
Finalmente, achei-me! Sempre estive perto afinal! À distância de um abraço.
Largamo-nos cuidadosamente, sem dizer nada. Tudo ficou quente.
Abri as minhas asas.
Levantei voo.
Segui rumo ao céu.
Sabendo que atrás da persiana que liberta as pequenas frestas de luz... sabendo que atrás da escuridão...
Está o Mundo...e está à minha espera.
Irei procurar as palhinhas para construir o meu Ninho.
Irei cantar mais alto que todos os outros.
Irei cantar a alguém que se apaixone pela minha melodia.
Alcancei a liberdade total, quando encontrei a minha alma e a abracei com saudade.


Rita Oliveira
22-06-2008